Você sabe o que acontece com o seu cérebro durante os processos de mudança?

A grande maioria das pessoas não e entender o funcionamento do cérebro durante esse período é muito importante para que as pessoas comecem a ter outra visão delas: entender as suas emoções, o processo de mudança. Automaticamente, a resistência diminui.

Esse entendimento anula a famosa frase que mudar é fácil e que gestão de mudanças é dispensável nas organizações, pois as pessoas precisam mudar porque o cenário exige.

David Rock, neurocientista, explica que entender o que acontece com o nosso cérebro ajuda-nos a modifica-lo e resistir menos as nossas próprias mudanças. A psicoeducação também trata desse assunto, quando afirma que quanto mais você sabe sobre você mesmo e sobre o que está acontecendo dentro de você, melhor você consegue lidar com isso.

Quando levamos esse assunto para o campo organizacional, nós não podemos e nem devemos fugir disso. Pois, o papel da organização é utilizar essa informação para ajudar as pessoas a entenderem o que está acontecendo com elas e que elas não sabiam.

Nós não tivemos uma educação emocional, portanto, quase ninguém entende se as suas emoções são normais e não sabem o motivo de estarem reagindo de determinadas maneiras. Portanto, se você quer uma mudança saudável em sua organização, ensine para as pessoas o que está acontecendo com elas.  

Qual é a diferença entre mudança, transformação e disrrupção?

Conceitualmente, nós temos três significados diferentes:

Mudança: um projeto, uma implementação (mudo de casa, mudo de emprego, mudo o processo).

Transformação: ciclo completo, uma transformação. Eu tenho um processo de mudança que não é só o físico, tem algo em mim que está mudando.

DIsrrupção:  tendemos a achar, pelo próprio nome, que é um corte em algo que sempre fazíamos. Por exemplo, a lei que determina como obrigatório o cinto de segurança ou a lei que determina que não é mais permitido fumar em locais fechados.

Só que, para o nosso cérebro, essas três coisas (mudança, transformação e disrrupção) são exatamente a mesma coisa. O nosso cérebro não distingue esse conceito. Ele é um órgão que atua em cima de aprendizagem, de ameaça ou de estímulo externo. Portanto, para ele, os três significam mudanças, pois todos fazem com que o nosso cérebro gaste muita energia para conseguir se adaptar.

Naturalmente, nosso cérebro vai tender a não querer se adaptar, vai tentar ficar em homeostase, pois ele não é programado para querer ficar se modificando. Ao longo da história, aprendemos que o nosso cérebro consegue ser modificado, então, apesar dele não ser programado para isso, é possível que ele mude.

Como funcionam os estudos do cérebro

Os estudos do cérebro são realizados em uma cama chamada FMRI, cama de ressonância do seu cérebro, e, nessa cama, os participantes ficam imóveis, deitados e olhando para cima.

O escâner consegue entender qual local tem mais frequência no seu cérebro de ativação, ou seja, aonde será mais ativado no momento em que você estiver fazendo determinada atividade.

Isso quer dizer que, no meu cenário da organização, talvez, por ser um cenário muito mais imprevisível do que um cenário de estudo, o meu cérebro reaja de maneira muito mais intensa.

Veja na imagem abaixo, na parte mais escura, onde aparece o Cortéx Cingulado, Cortéx Orbital e a Insula, são as partes que ficam em maior ativação durante os processos de mudança cognitiva (quando pede que mudemos um pensamento, uma maneira de fazer, etc). E a amígdala é a parte do nosso cérebro principal de emoção, ela é que ativa os nossos estados emocionais (medo, frustração, ansiedade, nojo, etc.). 

A ínsula, que também faz parte do caminho límbico (que é a parte da emoção), é também uma das partes do cérebro que vai nos ajudar a ativar a nossa memória de curto prazo, no processo de aprendizagem, vai liberar alguns hormônios para que a aprendizagem aconteça ou não.

Temos as partes frontais que é o córtex cingulado anterior dorsal e o córtex orbital que são as partes que fazem essa conexão para que a gente consiga tomar decisões, racionalizar as decisões e ter uma memória ativada.

Essas quatro partes durante um processo de mudança estão ativadas juntas. O que isso quer dizer?

Quer dizer que, em um processo de mudança, nós não pensamos apenas com a razão. O que já refuta o pensamento de qualquer pessoa que diga que “mudar é fácil, pois precisamos ser racionais”, a mudança não é um processo racional. O nosso cérebro muda, produzindo novas substâncias, ativa a parte emocional e as memórias emocionais (desde a infância). Quando essas partes estão ativadas, nós não conseguimos ter a nossa parte racional e intelectual funcionando só com o que ela tem de contexto racional, ou seja, as  nossas decisões serão afetadas emocionalmente por causa das nossas memórias.

As nossas memórias do passado irão surgir; sentiremos medo; sentiremos frustração; sentiremos muitas coisas que, muitas vezes, não vamos conseguir interpretar o que é.

Qual é a diferença para que algumas pessoas consigam sentir menos essa parte ruim da mudança?

São pessoas que têm uma memória, desde a infância, mais positiva em relação à mudança, mais do que isso, são as pessoas que aprenderam no passado a regularem a sua emoção. Porém, de acordo com os dados de pesquisas, apenas 14% das pessoas têm esse mindset de que mudar é bom, que pode errar o tempo todo e que isso não é um problema.

Quando não aprendemos a regular a emoção, não conseguimos entender o que está acontecendo internamente nesse processo de mudança. A maioria de nós engole e reprime essa emoção, fingindo que está tudo bem, porém acaba resistindo mais. O cérebro continua produzindo a mudança, porque ao tentar reprimir, ele entenda que estamos em ameaça e criamos, assim, uma memória negativa em relação a essa mudança. Ou seja, o seu cérebro está em constante ebulição e, ao invés de acalmar, tentamos suprimir tudo isso que estamos sentindo, pois não sabemos o que está acontecendo.

Entretanto, se você é uma pessoa que consegue entender suas emoções, consegue entender que isso acontece com todo mundo e consegue identificar que ao iniciar uma nova mudança, terá reações emocionais (ficará nervoso, estressado e cansado), reconhecendo o que está sentindo e consegue regular, falar e lidar sobre isso. Dessa forma, esse processo passa mais rápido e criamos uma memória positiva, conseguindo mudar mais.

Para conseguirmos mudar, da mesma maneira que aprender (a aprendizagem tem as mesmas partes do cérebro que ativam na mudança), temos que entender que o nosso cérebro está em modificação e está trazendo memórias e emoção. A primeira coisa que você precisa fazer é parar de acreditar que mudar é fácil e que é um processo evolutivo e natural, porque a neurociência e a psicologia do comportamento já nos apresentam dados de que há alteração. Segunda coisa, você não pode mais dizer que a mudança é um processo de decisão ou racional porque não é, trata-se muito mais um processo emocional, pois é a emoção que vai te levar às decisões do que você faz racionalmente ou não.

Precisamos entender que temos que lidar com isso, com ferramentas e com práticas, dentro das organizações, que sirvam para ajudar as pessoas a se adaptarem a esse processo.

Infelizmente, isso não é uma coisa que seja divulgada como deveria. Existem muitas empresas sofrendo, porque tem muitos processos de mudança acontecendo. Imagine o seu cérebro sendo ativado, o tempo todo, com a amigdala, com a memória e mais com as preocupações do dia a dia. O que acontece?

Começamos a pifar; começamos a desenvolver ansiedades generalizadas (que é o que temos de índices mais altos no Brasil); começamos a desenvolver a síndrome de Burnout; começamos a desenvolver as doenças mentais (como eu gosto de chamar doenças emocionais).

Se a sua empresa está passando por uma ou várias mudanças, você precisa começar a entender que quanto mais informações você der para essas pessoas, mais elas vão conseguir entender que é um processo natural do ser humano e que as suas decisões vão ser alteradas e que elas podem falar sobre isso dentro da organização.

Resumindo, o que quer dizer essa mudança cerebral? O que ela afeta?

– Diminuição de aprendizagem;

– Emoção: vai ficar mais aguçada no sentindo negativo, você vai estar mais ansioso, mais frustrado e com mais medo;

– O seu processo de decisão vai ficar totalmente interferido pela emoção, pela aprendizagem e pelas memórias;

– A sua clareza de pensamento vai diminuir muito e;

– A sua visão de futuro vai ficar pessimista

Dessas cinco coisas, todo mundo vai ter alteração na emoção, na dificuldade de aprendizagem e na dificuldade de tomar decisões baseadas em razão.  As demais, algumas pessoas podem ter ou não, dependendo do histórico de vida que elas têm.

E o que fazer após saber disso?

Primeira coisa, se você entendeu que o que acontece é biológico (que existe uma alteração), você já pode lidar com a mudança dentro da sua organização de uma maneira diferente: entendendo que as pessoas vão ter reações, vão ter emoções exacerbadas, vão adoecer e que você pode fazer alguma coisa com isso. Mas, o que você vai fazer tem que ser diferente do que você já fez. Não adianta fazer uma reunião de alinhamento; não adianta mandar um e-mail; não adianta encher a sua organização de banner e achar que o é suficiente.

Você precisa primeiro educar as pessoas no seu próprio processo, explicando os procedimentos. Tente fazer uma reunião em um local diferente. Tente fazer com que as pessoas entendam que isso acontece com todo mundo.

Depois, você precisa ajudar as pessoas a falarem sobre o que aconteceu no passado e sobre o presente. Trago, abaixo, algumas perguntas que podem ajudar vocês nessa fase:

  1. O que aconteceu com você nos últimos processos ou nesse processo que estamos passando?
  2. O que você sentiu mais? Dificuldade de decisão; ansiedade; dificuldade de ter clareza de pensamento; mais pessimismo? Foi apenas uma coisa ou foram todas?
  3. O que você sentiu menos?

Essa já é uma maneira das pessoas se posicionarem sem medo de serem julgadas como resistentes.

Eu vou te contar que, geralmente, esse lugar é quando todo mundo já está passando por efeitos de mudança e todos fingem que não estão.

É importante vocês entenderem o que o grupo conseguiu fazer, mesmo dentro do sofrimento.

Tome muito cuidado para não falar só da parte boa e nem só da parte ruim, pois a maneira de construir uma memória real de um processo de mudanças, com a emoção mais regulada, é começando a entender que vamos passar pelas duas coisas: pelo bom e pelo ruim. A mudança sempre vai nos trazer esses dois cenários, às vezes, em proporções diferentes, mas os dois estão sempre presentes.

Quanto mais você conseguir ser honesto com as pessoas para falar sobre isso, inclusive para falar sobre você mesmo, melhor serão os resultados dentro da sua organização.

Franciele Maftum
#éhorademudaromundo

Vídeo Base: O que acontece com nosso cérebro em processos de mudanças 2020]  https://youtu.be/9dWJelU4Fl8

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