Emoções: Por que a sua empresa precisa aprender a falar sobre elas e sobre a gestão da emoção para conseguir fazer as mudanças acontecerem? Não podemos mais deixar de falar sobre isso dentro das empresas, pois se buscamos melhor performance, mudanças acontecendo de fato, com velocidade e, acima de tudo, com saúde física e mental dos seus colaboradores, esse é o caminho.  Mas, ainda encontramos muita resistência e muito preconceito relacionado à esse assunto.

Quando estamos em processos de mudança, o nosso cérebro, a cada etapa, passa por pequenas disrupções. A cada nova decisão de mudança que precisamos tomar, o nosso cérebro, através da amigdala acionada, irá ativar as nossas memórias do passado, as nossas memórias afetivas (as últimas mudanças que aconteceram, as mudanças que tivemos quando crianças e o nosso histórico de que mudar é bom ou mudar é ruim).

Essas memórias vão mandar um sinal para a parte emocional do nosso cérebro (sistema límbico) para avisá-lo que estamos em mudança. Nesse momento, a amigdala ficará totalmente ativada, isso acontece com todos nós quando estamos em processos de mudança, e, portanto, as nossas decisões racionais começam a ser influenciadas pelo nosso estado emocional. Começamos a sentir um pouco de confusão; um pouco de solidão e; às vezes, sobrecarregados.

Isso acontece porque estamos tentando pensar em mais uma coisa que precisamos fazer e, ao mesmo tempo, o nosso sistema de memórias está ativando toda a nossa parte emocional. Se a pessoa que está passando pela mudança aprendeu que a emoção não deve ser sentida e que deve controla-la, ela poderá até não achar que está reagindo emocionalmente, mas, na verdade, ela estará suprimindo essa emoção e transformando-a em estresse e ansiedade.

Se essa pessoa tiver memórias de que, sim, ela sentia, mas sempre falavam para sentir menos, não chorar tanto, lidar com as mudanças de uma maneira mais leve. Ela, nesse caso, tentará engolir o que está sentindo e irá se sentir cada vez mais sozinha e confusa para tomar decisões.

Nesse momento, o processo emocional vai estar totalmente ativado e cada pessoa vai ter um tipo de ativação diferente: dependendo do seu histórico de vida, do que ela viveu e das suas memórias. Mas, o que sabemos é que, de qualquer maneira, como é uma questão que envolve pessoas e processos da nossa vida, ele vai ativar o nosso sistema límbico. Então, por mais racional que a pessoa seja, ela irá estar com o seu sistema emocional ativado.

Eu trouxe um exemplo que eu sempre uso sobre a mudança de casa. Você já mudou de casa alguma vez?

Eu já mudei de casa – só depois que eu casei – mais de cinco vezes. Então, obviamente, eu sou uma pessoa que muda bastante. A maioria das pessoas, dentro das empresas, que já são casadas, já se mudou de casa pelo menos uma vez.

O que acontece quando a gente muda de uma casa para outra, levando em consideração que estamos saindo de uma casa com todos os nossos móveis, indo para outra casa levando essa bagagem?

Primeiro a gente tem um desejo ou uma necessidade. Por exemplo: eu quero mudar para uma casa maior; quero mudar de cidade; eu preciso mudar porque meu trabalho exige que eu mude.

Nesse cenário, primeiro vamos pensar nesse lugar que iremos morar do jeito que gostaríamos: local, bairro, tamanho e orçamento determinado.

Geralmente, esse é um processo que a maioria de nós segue quando fazemos uma mudança de casa. A grande questão é que quando olhamos para uma gestão de mudanças, para uma mudança de empresa ou para uma mudança de liderança, por exemplo, nós olhamos para a mudança sempre nesse eixo físico: o que a gente precisa mudar; como a gente vai mudar; quem participa do processo; etc.

Esse foi o jeito que nós aprendemos desde sempre de como fazer um planejamento, ou seja, quanto mais detalhista e quanto mais conhecimento em projetos temos, mais teremos “casinhas” para que essa mudança aconteça de maneira estruturada.

Só que, da mesma maneira que, precisamos de toda essa estrutura para mudar uma casa, todo o controle físico do que fazer/quando/onde, nós temos, também, uma parte de baixo que não conseguimos, necessariamente, controlar. Que é a nossa parte emocional.

Quando chegamos à etapa 4, efetivamente a gente mudou, mas começamos um outro processo de mudanças que é se adaptar a esse local novo. Você já deve ter percebido que quando a gente muda de casa ou até de computador, a gente demora um tempo para conseguir apertar o botão certo, guardar as coisas no local certo. Porque o nosso cérebro está muito habituado a essa repetição que já tínhamos o ensinado a fazer para sobreviver.

Toda mudança que a gente estiver fazendo, principalmente, mudanças maiores, vão mexer com seu sistema emocional, com o seu sistema límbico e, por isso, é importante que você comece a levar em consideração, se você não quiser que as suas mudanças sejam piores que ela poderiam ser.

É muito comum a gente achar que tem tudo sobre controle no processo físico, mas não nos damos conta que estamos reagindo emocionalmente. Só que as pessoas a nossa volta sentem. Então, elas sentem que estamos estressados, que começamos a dar ordens demais, sentem estamos com uma fisionomia diferente. Portanto, mesmo que você ache que você não está sentindo o processo, o processo está sentindo você e, talvez, você só não esteja percebendo.

Dentro de uma organização, geralmente, temos três personagens dentro de um processo de mudança:

  1. Eu: o quanto “eu” preciso mudar, os “meus” estados emocionais, a “minha” maneira de estruturar as coisas, o quanto “eu” gosto ou não de falar de emoção, o quanto “eu” aceito ou não lidar com as minhas emoções.
  2. Outro: as outras pessoas com as quais trabalhamos que também estão vivenciando os processos de gestão de mudança, dentro do histórico delas, de suas emoções, do que elas sabem sobre isso e de como conseguem lidar com isso.
  3. Cenário: simplesmente quer aconteça a entrega. Esse cenário pode ser a organização, a economia, o mercado externo que está pedindo para a sua organização fazer algum tipo de mudança rápida. O cenário sempre traz uma data marcada para entrega e sempre quer performance dentro dos seus processos.

Isso acontece também na nossa vida pessoais: às vezes, estamos fazendo uma mudança com a nossa própria família e o cenário exige que isso seja rápido, mas não estávamos prontos para entregar isso de maneira tão rápida como, por exemplo: uma mudança de país, cidade ou uma mudança qualquer.

Hoje em dia, a maioria das organizações ainda opera da seguinte maneira: o “eu” empurra o outro, principalmente, se é um líder ou uma área de suporte (como o RH) e outro faz o cenário se modificar. Ou o outro empurra o “eu” e o “eu” faz o cenário se modificar.

Só que quando começamos a entender que a mudança é um processo emocional e que envolve aprendizagem, memórias e todo um sistema muito complexo que acontece dentro de nós, começamos a ver que esse sistema de empurrar o outro nunca vai fechar. Nós vamos chegar, na entrega para o cenário, exaustos ou ativando várias questões de doenças mentais que são tão comuns nas organizações.

Para que a gente consiga evitar essa situação, “eu” e o “outro” vamos precisar trabalhar juntos para esse processo de mudança. Só que isso implica em: reconhecer as nossas limitações, as nossas emoções e lidarmos com elas. Se não, acabamos jogando a nossa emoção para o outro e o outro joga a emoção dele para nós. Esse é, mais ou menos, o cenário que encontramos em empresas que mudam muito:  uma confusão e uma roda viva.

Em dinâmicas de grupo podemos perceber que esse cenário é realmente o processo que nós estamos acostumados a vivenciar, ou seja, criando caos dentro do caos. E isso tudo, porque existe um tabu de que não precisamos falar de emoções, reconhecer emoções e lidar com elas.

O que está assim como plano de fundo dentro de uma mudança organizacional?

Para que ela ocorra, precisamos de foco e precisamos de performance. Só que para atingir isso, precisamos parar de controlar as nossas emoções, começar entende-las e lidar com elas. Quando unimos o nosso histórico de vida e as nossas memórias, as nossas decisões são afetadas pelas reações emocionais e influenciam o nosso foco e a nossa performance. A partir desse momento, essa relação de eu/o outro/o cenário já começa a ficar nebulosa.

Quando as organizações cobram foco e aumento de performance, mas não falam e não ensinam sobre as emoções, as pessoas podem até entregar, entretanto vão estar na situação que vemos muito: com doenças emocionais, ou seja, índices altíssimos de depressão; índices altíssimos de burn out; índices altíssimos de ansiedade. Essas são as três doenças da nossa vida social e que estão muito presentes na nossa organização, não só nos níveis de analistas e operacionais, mas, muito, nos níveis de liderança também.

Infelizmente, a ansiedade e a síndrome de burn out viraram, praticamente, sinônimos de comprometimento. Porém, obviamente, está errado. A ansiedade ocasiona a fadiga, as compulsões (alimentares, trabalho, detalhes) e o pânico, que também tem uma incidência muito alta nas pessoas dentro das organizações.

Qual é o resultado de eu não lidar com os processos emocionais da minha organização?

O seu resultado são as doenças mentais. Você pode perceber que, além de não conseguir ter e sustentar uma performance por médio e longo prazo, você, ao invés de produzir mudanças, começa a produzir doenças. Esse é o cenário que temos hoje, não tem como negar.

Então, se você não fala sobre emoções para gerenciar as suas mudanças, você pode estar sendo um produtor dessas doenças, ao invés de produzir o que você quer (que as pessoas mudem e que se sintam satisfeitas dentro do seu trabalho).

Franciele Maftum
#éhorademudaromundo

Vídeo base: Por que as empresas não podem mais deixar de falar sobre emoções – 2020

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