Nós já sabemos que o nosso cérebro reage emocionalmente toda vez que estamos passando por um processos de mudanças. Nesse momento de incertezas, o nosso cérebro entra em um processo de reação de luta ou fuga de uma ameaça (ameaça física e social), ou seja, o cérebro aciona um sistema que existe desde os primatas que tem a função de nos proteger de predadores e garantir a nossa sobrevivência. Diante de uma ameaça, nosso cérebro irá acionar a amígdala cerebral. A amígdala, por sua vez, acionará o nosso hipocampo – responsável pelas nossas emoções e memórias – e essa memória irá nos dizer que estamos diante de predadores e que é necessário nos defendermos, mandando essa mensagem para o cortéx pré-frontal que decidirá entre atacar, fugir ou paralisar, de acordo com o histórico de vida de cada pessoa.
Esse movimento de luta ou fuga é muito importante para nossa sobrevivência, entretanto, atualmente, ele é acionado com uma frequência muito alta por causa dos estressores sociais. Antigamente, por exemplo, os predadores que acionavam esse sistema era a ameaça de roubar a nossa comida, hoje, é ser punido moralmente ou perder o emprego. Com essa modificação de predadores e com as constantes mudanças que passamos em nossas vidas, a nossa reação de luta ou fuga fica acionada 24 horas por dia, pois, muitas vezes, não conseguimos visualizar o futuro. Quando nosso cérebro não encontra um futuro ou um final para as situações, ele entra em atividade para conseguir lidar com essa incerteza, pois, biologicamente, ele não foi preparado para isso.
Essa atividade acaba causando um esgotamento mental, chamado de burn out, que é a consequência de estar o tempo todo em luta ou fuga, produzindo cortisol e com o pensamento extremamente acelerado.
As pessoas que, geralmente, lutam em situações de ameaças sentem muita pressão e tensão nas costas e no pescoço. Quem vai para a fuga, geralmente, sente essa tensão nos órgãos internos, sentindo mal estar no estomago e dores no corpo.
Além dessa reação de luta ou fuga, é preciso considerar, também, que, quando passamos por processos de mudanças, passamos por diversos estados emocionais, ou seja, a famosa curva da mudança. Um adulto, acima dos 25 anos, não consegue mais acumular conhecimentos novos e quando alguma mudança ou aprendizagem surge, o cérebro precisará se desfazer de algum conhecimento antigo para colocar esse no lugar. Ao passar por esse processo, o cérebro entra em estado de luto, deixando partes antigas para adicionar novas memórias.
Colocando essa curva da mudança no cenário atual, as pessoas vão passar pelas 5 reações emocionais: negação, raiva, depressão, barganha e aceitação.
Por exemplo:
Na negação, algumas pessoas podem não acreditar no que está acontecendo ou que essa situação irá passar em breve ou que as empresas irão se recuperar rapidamente ou, até mesmo, que a pandemia pode ser uma invenção. Na raiva, por sua vez, as pessoas começam a culpar a si, o outro, a empresa, o governo, a China, etc. Na barganha é aquele momento em que tentamos arrumar uma maneira para não precisar mudar, por exemplo, querer que todas as pessoas vivam com máscaras protetoras e que com isso todos possam voltar a rotina normal. Já na depressão é aquele momento em que percebemos que as pessoas desistiram de tentar, que vão apenas fazer o que precisa ser feito e não questionar. E, por fim, chegamos à aceitação e buscamos novas soluções.
Entretanto, não vivemos essa curva da mudança de forma linear, ou seja, oscilamos o tempo todo entre esses cinco estados emocionais e reagimos na luta ou fuga o tempo todo também. O cenário da pandemia faz com que a intensidade dessas emoções seja muito grande e que as pessoas passem pela curva de uma maneira muito acentuada, com muita raiva, muita depressão ou muita negação.
O melhor caminho para buscar a saúde mental é o cuidado: se sentir cuidado e prover cuidado para os outros. É importante entender o momento de cada pessoa, tentar acalma-la e não tentar resolver nada no momento de reações emocionais, pois, muitas vezes, as pessoas não vão nem conseguir entender e assimilar o que está acontecendo. É preciso lembrar, também, que o nosso cérebro se acalma quando damos um fim para as novas situações. Nesse momento de caos dos processos de mudanças, não conseguimos dar um fim para o que estamos vivendo, porém existem algumas frases que podem ajudar o cérebro a entender como uma finalização: Fale para as pessoas que vocês vão resolver o seu problema, que irão escutá-los, e que elas não estão sozinhas.
Franciele Maftum
#éhorademudaromundo
Vídeo Base: Como ajudar as pessoas em processos de mudanças? – 2020